“A economia é parte de um todo. Ela é um subsistema do regime termodinâmico e da biosfera do planeta, mas ela também se insere no universo das escolhas, normas e valores culturalmente gerados: a natureza e a ética balizam o processo econômico.”
Eduardo Giannetti
Venho acompanhando, há anos, a redução da procura pelas vagas oferecidas pelos cursos de graduação em Economia no Brasil[1], fenômeno que, aliás, aconteceu anteriormente também nos Estados Unidos e em diversos países da Europa.
Já li e ouvi as mais diferentes explicações para este fenômeno que vão da dificuldade do curso em comparação a outros cursos universitários, passam pelo seu viés excessivamente teórico e macroeconômico, e chegam à baixa empregabilidade que o curso oferece a quem se forma em Ciências Econômicas.
Não considero convincentes quaisquer dessas explicações, embora reconheça que o curso apresenta um grau de dificuldade superior ao de outros cursos de áreas limítrofes, como o de Administração, por exemplo.
Justifico minha posição com base na extraordinária abrangência oferecida pelo curso de Economia – que se reproduz no exercício da profissão – perceptível tanto no plano da teoria como no da aplicação prática.
Não é qualquer ciência que permite uma aplicação tão ampla de seus modelos teóricos, o que só é possível pela rígida e abrangente formação do economista, que combina teoria econômica, métodos quantitativos e formação histórica. Tal amplitude pode ser comprovada por contribuições recentes que utilizam modelos econômicos em diversas áreas, originando expressões como economia do crime, economia da educação, economia comportamental, economia dos esportes, economia da saúde etc.
A mesma amplitude observada no plano teórico pode ser observada no plano real, quando se observa o mercado de trabalho e a enorme gama de ocupações que podem ser desempenhadas pelos economistas.
Em evento que reúne os Conselhos Regionais de Economia (SINCE), o Prof. Roberto Macedo, utilizando-se de dados que vem sendo constantemente atualizados, chamou atenção para uma tendência verificada no mercado de trabalho, representada pelo crescente descolamento entre profissão e ocupação[2]. A primeira diz respeito à formação do indivíduo, seja ela obtida num curso superior, seja num curso técnico. A segunda refere-se ao tipo de trabalho que o indivíduo desenvolve, podendo estar relacionado ou não à sua profissão. Tal descolamento é maior em algumas profissões do que em outras, estando a de economista entre as que apresentam maior grau de dispersão, o que indica que o mesmo pode atuar em um número significativo de ocupações, como se vê na tabela 1, conferindo-lhe um elevadíssimo grau de empregabilidade.
Tabela 1
Dispersão Ocupacional
Nº de ocupações que alcançam mais de 70% dos trabalhadores, por profissão – 2010
Curso/Profissão |
Número |
Curso/Profissão |
Número |
Odontologia |
1 |
Engenharia Civil |
12 |
Medicina |
2 |
Matemática |
13 |
Farmácia |
2 |
Agronomia |
13 |
Biologia |
3 |
Biblioteconomia |
14 |
Enfermagem |
3 |
Física |
17 |
Artes |
4 |
Contabilidade |
21 |
História |
4 |
Teologia |
23 |
Serviço Social |
6 |
Engenharia Mecânica |
25 |
Sociologia |
6 |
Química |
25 |
Filosofia |
7 |
Engenharia Química |
26 |
Arquitetura |
8 |
Estatística |
27 |
Veterinária |
8 |
Economia |
33 |
Psicologia |
10 |
Administração |
35 |
Direito |
11 |
Engenharia Elétrica |
37 |
Diante dos argumentos aqui apresentados, recomendo aos jovens que estão em fase de decisão do que irão fazer no curso universitário para considerarem com mais carinho a opção pela Economia. Seguramente terão que se esforçar bastante ao longo de todo o curso, mas, desde que escolham uma boa faculdade e tenham um bom aproveitamento, serão amplamente recompensados na carreira profissional, seja ela mais voltada para o plano teórico, como pesquisadores e/ou professores, seja ela mais voltada para o chamado setor real da economia, atuando em empresas públicas ou privadas, tanto na macro como na microeconomia.
Referências e indicações bibliográficas e webgráficas
ANDERSON, Chris e SALLY, David. Os números do jogo: por que tudo o que você sabe sobre futebol está errado. Tradução de André Fontenelle. São Paulo: Paralela, 2013.
BECKER, Gary S. e BECKER, Guity N. The economics of life: from baseball to affirmative action to immigration. Chicago: McGraw-Hill Trade, 1998.
MACEDO. Roberto. Seu diploma, sua prancha: como escolher a profissão e surfar no mercado de trabalho. São Paulo: Saraiva, 1998.
MACHADO, Luiz Alberto. Como enfrentar os desafios da carreira profissional: antes e após sua escolha. São Paulo: Trevisan Editora Universitária, 2012.
_______________ Grandes Economistas: Gary Becker e as diferentes aplicações de métodos econômicos. Disponível em http://www.cofecon.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1080&Itemid=114.
_______________ Economia do crime. Disponível em https://espacodemocratico.org.br/artigos/economia-do-crime-2/.
[1] Interessante assinalar que o mesmo fenômeno não ocorre em nível de pós-graduação, uma vez que os programas de mestrado e doutorado em Economia encontram-se entre os mais procurados no Brasil.
[2] A diferença em entre profissão e ocupação, não percebida pela maioria das pessoas, mereceu atenção especial de Roberto Macedo no livro Seu diploma, sua prancha! (Saraiva, 1998).Também me referi a ela no livro Como enfrentar os desafios da carreira profissional (Trevisan, 2012).
Fonte: Souza Aranha Machado, Disponível em http://www.souzaaranhamachado.com.br/2021/08/economista/