Com esses primeiros dias da GUERRA entre Rússia X Ucrânia, é possível já sentir os impactos na economia brasileira?
De imediato podemos já observar uma escalada no preço do mercado de combustíveis, a cotação do petróleo atingiu na manhã desta quarta-feira (02/03) a cotação de US$ 110,72/barril brent para compra, e isso já representa um crescimento de cerca de 42% nos ganhos só este ano. O dólar que vinha namorando uma cotação abaixo dos R$ 5,00 como aconteceu no último dia 23, voltou a crescer com força e fechou quarta-feira (02/03) a cotação de R$ 5,12, 2,33% a mais que na última quarta-feira (23/02). Para os próximos dias podemos contar com um comunicado da PETROBRAS de aumento no preço da gasolina, diante da política de repasse ao consumidor da variação do preço internacional, isso porque a estatal já está há quase 50 dias sem reajustar os preços dos combustíveis, operando com R$ 1,00 de defasagem no preço do litro do diesel e R$ 0,80 para a gasolina. Essa defasagem representa 27% para o diesel S-10 e 24% para a gasolina, em relação ao preço de paridade de importação de acordo com a Consultoria Stonex.
O que podemos esperar com o avanço desta guerra, considerando as sanções que estão sendo cada vez mais ampliadas a Rússia?
Desde a primeira investida russa em território ucraniano, muitos países já se posicionaram contra a guerra por meio de sanções a Rússia. Dentre essas sanções, podemos destacar primeiramente a do sistema bancário, talvez a de maior impacto até o momento, com a remoção de diversas instituições bancárias do Swift, sistema de telecomunicações financeiras em que são feitas cerca de 70% das transações bancárias globais e está presente em mais de 200 países. Além disso, ativos russos foram bloqueados ao redor do mundo e a o Banco Central russo foi proibido pelos Estados Unidos de realizar transações em dólar.
As sanções vão além da economia, no setor de transportes a União Europeia proibiu voos particulares e comerciais de sobrevoarem, pousarem e decolarem em países membros. Empresas como Boeing e Delta Airlines, suspenderam seus trabalhos em território russo. No espaço marítimo, entregas com a Rússia como destino foram suspensas. BMW, Ford, Honda e Renault também suspenderam suas atividades em solo russo, isso inclui a exportação de veículo para o país.
Empresas europeias e americanas com participação em joint-ventures e investimentos no mercado de gás e petróleo na Rússia, também anunciaram a suspensão e até encerramento de acordos.
Ainda é muito cedo para falarmos sobre impacto no curto, médio e longo prazo. Mas se essa guerra perdurar por mais tempo, o nosso país pode sofrer em três variáveis: combustíveis, alimentos e câmbio. O principal é o preço internacional do petróleo, cujo barril do tipo Brent chegou nessa semana em US$ 110,72, no maior nível desde 2014. O mesmo ocorre com o gás natural, produto do qual a Rússia é a maior produtora global, cujo BTU, tipo de medida de energia, pode chegar a US$ 30, um aumento de 6,15% em relação a janeiro de 2022.
Em relação à gasolina, a recuperação da safra de cana-de-açúcar está reduzindo o preço do álcool anidro, o que também ajuda a segurar a pressão do aumento do barril de petróleo num primeiro momento. Desde novembro do ano passado, o litro do etanol anidro acumula queda de 24,6% em São Paulo, segundo o Cepea1. As maiores pressões sobre combustíveis estão ocorrendo sobre o diesel, que não tem a adição de etanol e subiu 3,78% em janeiro, segundo o IPCA-15, que funciona como prévia da inflação oficial.
1 Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
Já nos alimentos, a Rússia é a maior produtora de trigo no mundo e a Ucrânia ocupa a quarta posição. Na última terça-feira (01/03) o preço do trigo subiu 8,91%, maior alta em 13 anos. Nesse caso, o Brasil não pode contar com outros mercados por conta da seca na Argentina, tradicionalmente o maior exportador do grão para o Brasil, que está comprometendo a safra local. A crise instaurada em âmbito mundial pressiona o preço dos alimentos, tanto pelo custo do frete, devido ao aumento do barril de petróleo que tende a aumentar o preço dos combustíveis, dado que o principal modal logístico nacional é o rodoviário, quanto pelo custo com os insumos na produção, visto que a Rússia é o maior produtor mundial de fertilizantes, e as sanções podem provocar um desabastecimento no mercado, fazendo o preço do insumo subir, sendo repassado para a cadeia produtiva.
Atualmente, o Brasil compra 20% dos fertilizantes do mercado russo e só na última semana os preços subiram 5,8% segundo a CNA2. Além disso, a instabilidade no Leste Europeu poderá não apenas impactar os índices de inflação, mas também obrigar vários países desenvolvidos a tomar a decisão em aumentar a taxa básica de juros o que deve comprometer o crescimento econômico global para este ano ao reduzir o espaço para a melhoria dos preços e do consumo.
Um caso que chama a atenção em Mato Grosso do Sul, é a recente compra da UFN3, fábrica de fertilizantes nitrogenados da Petrobras localizada em Três Lagoas (MS), pela empresa Russa Acron. A compra foi feita no início de fevereiro, antes da investida do exército russo em território ucraniano e trazia grande expectativa para o município e estado. Apesar da compra ter sido concluída, pode haver um atraso no cronograma, que previa a inicialização das obras para julho de 2022 e a operacionalização em 2027, isso porque ativos russos foram bloqueados em boa parte do mundo e a maioria dos bancos russos foram excluídos do Swift.
A exclusão de bancos russos do Swift também impacta o mercado de carnes. Mato Grosso do Sul tem a carne como um dos principais itens exportados e uma parte disso vai para a Rússia. O faturamento do Brasil com a exportação de carnes para a Rússia em 2021 foi de US$ 328 milhões. Sem o Swift, as transações vão demorar mais do que deveriam, pois o sistema de pagamento será combinado diretamente entre as partes. Outro impacto está relacionado a custos: por um lado com o aumento dos preços de fertilizantes e petróleo, os preços de grãos como soja e milho - essenciais para a alimentação animal - sofrerão elevação. Por outro lado, o custo logístico também será elevado. Em primeiro lugar o frete até o porto, que no Brasil é feito quase que em sua totalidade por meio rodoviário. Em segundo lugar o transporte marítimo, que já conta com uma oferta menor de navios para aquela região.
Se a guerra perdurar, um estado como o Mato Grosso do Sul, que conta muito com o agro, irá sofrer forte impacto, o que será sentido não apenas na produção, como também no bolso dos consumidores, com o aumento de itens básicos.
HUDSON GARCIA DA SILVA
Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), Analista Tributário pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), Especializando em Administração e Finanças (Grupo UNINTER), Assistente Técnico em Perícias Cíveis e Econômico Financeiras, Consultor em Gestão Financeira junto ao SEBRAE/MS, atuante nas áreas de consultoria econômico-financeira corporativa, projetos de viabilidade econômico-financeira, plano de negócios e planejamento tributário com ênfase em Incentivos Fiscais Estaduais e Municipais. Diretor de Negócios da Agricon Consultoria Empresarial LTDA.
2 Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil